segunda-feira, 11 de julho de 2011

Encontro

Nunca imaginei que dar de cara com ócio fosse ser tão complicado. O tal do parou, me enlouqueceu.Não sabia administrar tantas horas, achava tudo um  silêncio ensurdecedor.Pocurava urgências, horas contadas, obrigações, lotação, pressas e nada. Era como tentar abraçar o vento. Fiquei tão ansiosa que nem o vento eu sentia.Meu corpo e alma pareciam estar programados e eu automáticamente obedecia.
- Vamos viajar, filha!?
Fiquei imensamente feliz com a idéia de sentir o mar beijando meus pés e sol acariciando minha pele.  Assim minha cabeça começou a acalmar e o coração a sonhar.
Mas no meio do caminho apareceram coisas chatas para atrapalhar o sonho, como já não brigava mais com o ócio inevitável, comecei a  cuidar de mim. Aliás, olhar para mim.Chamar a vaidade de volta para casa, vaidade? Não, aquela vontade de se sentir linda mesmo que de camiseta e meia. Receber elogios no meio de uma compra de pão na padaria da esquina.
Enfrentei os médicos da vida, tenho pavor. Todo virginiano é hipocondríaco, eu não seria diferente! Tudo Ok!!! Graças a DEUS!!!
Caminhar no parque sem hora para voltar, encarar aquele regime a lá Dráuzio Varella, fazer a massagem adiada a tempos, desligar o PC, ver besteiras na TV e morrer de rir, deixar os livros para depois, rezar muito ( sem compromisso com orações prontas),chorar porque a vigem foi adiada, comprar maquiagens e lavandas, tomar cerveja numa puta segunda feira, testar novas receitas, acompanhar a mãe no hospital com toda paciência do mundo e ficar feliz de pular quando o resultado  é negativo para dengue, ligar para amigos para falar coisas bobas, experimentar esmaltes, aumentar a carga na musculação, ir a todos os happy hours, fazer escova nos cabelos cada vez que lavados, emagrecer e acima de tudo repirar.
Ontem as 21hs fui para cama com muito sono, mas lembro que minha oração foi 1 pai nosso e : - Pai, obrigada por mais um dia, estou linda...Dormi em paz.
Hoje acordei tão...tão inteira!!!!E escrevo porque constato o quanto estava meia coisa, no automático, cansada e sem mim. Sem ser pretensiosa e já sendo, eu não brilhava!!!
Era eu sem brilho!!!
Aprendi! Digo que aprendi porque eu não sabia que seria assim. Tenho 1 semana de puro ócio, não sei se vou viajar, mas sei que vou continuar cuidando de mim, de minha casa e tratar de nunca mais ser só uma beirada do que sempre fui. Mesmo com o dia cheio há de se respirar e lembrar que a culpa é MINHA!!!!


E para enfrentar a culpa há de se estar inteira!




domingo, 19 de junho de 2011

Seu Finim



Como ontem foi bom!
Cuidar de mim , rever amigos, dar  a primeiro chinelo havaiana para sobrinha, comer delícias que lembram a infância, rir de doer, , receber mensagem do melhor amigo dizendo que a viagem não está tão boa porque não estou lá, falar com mãe horas a fio, chegar em casa a tempo de ver o programa preferido, adormecer no sofá e ir para cama muito muito tarde.

Mas como não sou uma pessoa que tem a normalidade como característica, 6:25pm já estava vagando! Está um friozinho bom para morar dentro do edredom, mas é só o galo do Seu Finim cantar que eu abro os olhos.

Seu Finim é uma figura linda que por "pirraça" mora numa das ruas mais urbanas da cidade e tem um galo, a diversão dele é falar Não para as grandes construtoras. Sua casinha fica em meio a prédios enormes. Um dia desses foi parar na delegacia porque denunciaram o galo dele. Foi uma coisa revoltante, claro que não foi preso,  mas se adiantou e pediu ajuda a todos os moradores para que caso ele  fosse a júri popular fossem lá defendê-lo. 
Teve que mandar o galo para o sítio da irmã, por uns dias. Agora o galo voltou, me acordou e lembrei dele e do dia que abordou-me com tanta maestria para solicitar que o ajudasse.Tinha um papelzinho na mão e uma caneta.
- Claro, defendo o senhor com unhas e dentes, mas o senhor não vai a júri popular.
- Minha filha, as pessoas mudaram. Eu tenho muito medo disso tudo. -Respondeu com uma voz mácia de quem tinha a sabedoria como guia.-Falaram que meu galo é muito escandaloso e tira a paz da manhãs, e que se eu não me livrar dele vão matá-lo.
- Mas gente, acho que o único instante de paz que temos aqui é o cantar do galo do senhor! Respondi já pensando em adotar o galo.
- Nem é cantar, moça, é um piar, ele está velho como eu.
Pensei em responder a constatação com um elogio, mas ele atropelou minhas palavras.Até porque ele já imaginava o rami rami que sairia da minha boca.
- Mas agora não estou preocupado com meu galo e sim se pão ainda está quente, preciso ir à venda. Assine aqui, por favor! Se me chamarem novamente na delegacia, vou levar esse abaixo assinado.
Assinei com gosto e percebi que lá só tinham 3 assinaturas, a do meu porteiro amigo, a dele e no momento  a minha.
Não precisei depor e há uma semana escuto o galo cantar. Deu tudo certo, ou Seu Finim está é fazendo mais  uma pirraça muito justa, as pessoas mudaram, ele tem razão.
Isso me faz lembrar um texto de Rubem Alves que amo muito – Sobre a  Simplicidade e a Sabedoria.
Uma hora dessa, Seu Finim já comprou o pão frio, por aqui é coisa rara pão quente saído do forno na hora do cantar do galo. Eu tive preguiça de descer, estou aqui escrevendo e tomando um café meio quente, não esperei a água esquentar como deveria, para variar. Se Seu Finim tomasse do meu café me mandaria a júri popular, e com razão.

Adoro me perder na casa de Rubem Alves.

sábado, 18 de junho de 2011

O preço




É sabido que dou aulas, individuais, de criatividade, isso mesmo criatividade. Para constar nas nomenclaturas das coisas é intitulado como redação. Não vejo como matéria obrigatória  e sim como arte. Tanto é que não me apego muito a regras, falo uma vez, e depois essas têm que vir com a criação. Não sei como consegui, aliás sei . 
Sempre fui uma professora estupidamente atípica, nunca consegui seguir o plano de aula. Ensino, ou melhor, transfiro conhecimento numa eterna dialética, é uma luta de saberes, apanho e dou porrada o tempo todo. Tem dado certo, entre os horários não cabe mais um suspirar, uma lista enorme de “alunos’ querendo uma vaga, e até hoje não fui processada por minha eloquência ou transgressão de regras.

Este semestre realizei um sonho que parecia meio utópico, confesso o automenosprezo, mas o tal do boca a boca calou a minha. Virei referência na área. Sonho realizado!
E como nenhuma realização de sonho acontece impunemente, comigo não seria diferente.
Hoje, ao final de um semestre, acordei e dei de cara comigo, sem nenhuma obrigação, sem horários, temas, letras, borrachas coloridas ( amo ) e urgências. Um lado explodia de alegria enquanto o  outro era uma exaustão denunciada pelos olhos e as unhas por fazer ( quem me conhece sabe o quanto as mãos são sagradas).
Como sempre ( espero que mude o cigarro), café, música, cigarro e uma fresta de sol para esquentar o corpo recém acordado, pensei em todas as vezes que julgaram-me  mercenária, viciada em trabalho, fugitiva da viva social dos bares e boates da vida, egoísta....
-Já pensou em procurar um psiquiatra? – ouvi
- Valha-me! Tenho um que além de psiquiatra é amigo, e não sei se pelo doutorado ou pela amizade fala que eu não tenho nada, além da insanidade.

Mas confesso a dedicação extrema, chega a ser bonito de  se ver. Mas abri mão de algumas coisas sim, não me arrependo. O que tem que ser... será!!!!!
Hoje foi dia de olhar no espelho e ver. Por favor, não basta só olhar!
Larguei o café, apaguei o cigarro, aumentei o som e experimentei um vestido lindo que nunca usei e para sensação ser melhor ainda, constatei que emagreci, ensaiei penteados e nenhum deu certo, olhei a caixa de esmaltes ( outro vicio) escolhi o vermelho mais intenso, abracei  a Margarida ( minha cachorrinha), abri minhas cortinas colorida, acendi outro cigarro, agradeci com o olhar os meus santos que moram em um relicário lindo , liguei para o salão, mandei sms para os amigos que viajaram, respondi os inbox do facebook, comi um pedaço de pizza gelada, desliguei a impressora, passei batom, liguei para irmã e saí.
Cheguei no salão e parafraseei Mercedes ( personagem de Martha Medeiros, O Divã) :
- Repicaaaaa! Repicaaaaaaaa!
- Mas você não quer deixar o cabelo crescer? Se eu repicar vai ficar curto.
- Muda, repicaaaaaa que fique curto, mas bonito. E nas mãos esse vermelho, nos pés o branquinho de sempre! Aceito cappucino!
Voltei para casa, CASA....
- Nova moradora? Brincou o porteiro amigo.
- Pois olhe, é sim.
- Hoje tem alunos e para mandar subir? Perguntou.
- Não, e se tivesse eu não estaria, cumprimos nossas missões por hora..

O cabelo ficou um pouco curto, mas lindo. As unhas belas e os pés descalços , só que na euforia a Margarida pisou na unha recém feita, pensei em gritar e lembrei que ela também trabalhou muito nesses últimos dias, assistia a todas aulas e acreditem, que ao cumprir os 90 minutos ( tempo da aula) ela latia, virou a sirene da escolinha. Os meninos até diziam que eu tinha treinado, sempre recebiam uma resposta ácida:
- Me respeita, eu mal consigo ter hora para dormir ou ficar bêbada, vou treinar a Guida para ser sirene? Ahhhhhhhhhh
- Então, como ela sabe que a aula vai acabar?
- Pergunta para ela, só tenho medo que me cobre salário.

Pedi cerveja ( hoje mereço lamber o chão), confirmei presença na festa da minha sobrinha ( filha da minha melhor amiga) que vai fazer 9 meses e eu só a vi até o quinto. Tirei a roupa, aumentei o som, Frejat por favor, nada de Chico, Vinícius, Clarice ou seja lá o que for, minha alma quer festa! 
Sentei na mesa que dou aula  que em 3 segundos transformei em bar, quando lá pelo segundo gole percebo que tem um homem arrumando a antena do prédio em frente  e observando uma mulher só de calcinha e sorriso largo bebendo cerveja. Tive vontade de gritar, mas não, coloquei roupa, ele deveria estar realizando algum sonho também.

 Beijos escolhidos.