domingo, 19 de junho de 2011

Seu Finim



Como ontem foi bom!
Cuidar de mim , rever amigos, dar  a primeiro chinelo havaiana para sobrinha, comer delícias que lembram a infância, rir de doer, , receber mensagem do melhor amigo dizendo que a viagem não está tão boa porque não estou lá, falar com mãe horas a fio, chegar em casa a tempo de ver o programa preferido, adormecer no sofá e ir para cama muito muito tarde.

Mas como não sou uma pessoa que tem a normalidade como característica, 6:25pm já estava vagando! Está um friozinho bom para morar dentro do edredom, mas é só o galo do Seu Finim cantar que eu abro os olhos.

Seu Finim é uma figura linda que por "pirraça" mora numa das ruas mais urbanas da cidade e tem um galo, a diversão dele é falar Não para as grandes construtoras. Sua casinha fica em meio a prédios enormes. Um dia desses foi parar na delegacia porque denunciaram o galo dele. Foi uma coisa revoltante, claro que não foi preso,  mas se adiantou e pediu ajuda a todos os moradores para que caso ele  fosse a júri popular fossem lá defendê-lo. 
Teve que mandar o galo para o sítio da irmã, por uns dias. Agora o galo voltou, me acordou e lembrei dele e do dia que abordou-me com tanta maestria para solicitar que o ajudasse.Tinha um papelzinho na mão e uma caneta.
- Claro, defendo o senhor com unhas e dentes, mas o senhor não vai a júri popular.
- Minha filha, as pessoas mudaram. Eu tenho muito medo disso tudo. -Respondeu com uma voz mácia de quem tinha a sabedoria como guia.-Falaram que meu galo é muito escandaloso e tira a paz da manhãs, e que se eu não me livrar dele vão matá-lo.
- Mas gente, acho que o único instante de paz que temos aqui é o cantar do galo do senhor! Respondi já pensando em adotar o galo.
- Nem é cantar, moça, é um piar, ele está velho como eu.
Pensei em responder a constatação com um elogio, mas ele atropelou minhas palavras.Até porque ele já imaginava o rami rami que sairia da minha boca.
- Mas agora não estou preocupado com meu galo e sim se pão ainda está quente, preciso ir à venda. Assine aqui, por favor! Se me chamarem novamente na delegacia, vou levar esse abaixo assinado.
Assinei com gosto e percebi que lá só tinham 3 assinaturas, a do meu porteiro amigo, a dele e no momento  a minha.
Não precisei depor e há uma semana escuto o galo cantar. Deu tudo certo, ou Seu Finim está é fazendo mais  uma pirraça muito justa, as pessoas mudaram, ele tem razão.
Isso me faz lembrar um texto de Rubem Alves que amo muito – Sobre a  Simplicidade e a Sabedoria.
Uma hora dessa, Seu Finim já comprou o pão frio, por aqui é coisa rara pão quente saído do forno na hora do cantar do galo. Eu tive preguiça de descer, estou aqui escrevendo e tomando um café meio quente, não esperei a água esquentar como deveria, para variar. Se Seu Finim tomasse do meu café me mandaria a júri popular, e com razão.

Adoro me perder na casa de Rubem Alves.

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